Para quem tem entre 13 e 18 anos, prática de formar figuras no ar utilizando o tecido acrobático fortalece a autoestima, desenvolve a coordenação motora e aumenta o foco
A adolescência é marcada por uma série de mudanças emocionais, sociais e físicas no corpo. É neste momento que ocorre a transição entre a infância e o despertar para a vida adulta, então há amadurecimento, mas também uma série de desafios. Neste contexto, pode ser difícil estabelecer a prática de atividades físicas e, mais do que isso, encontrar uma alternativa que seja prazerosa. Para adquirir consciência corporal, fortalecer o corpo, ganhar confiança e estabelecer expressividade e autoestima, o Ballet Fly é recomendado. Essa é uma atividade física que utiliza tecido acrobático e movimentos do ballet clássico para formar figuras no ar, como num voo.
“O objetivo principal da atividade física para o adolescente não é treinar visando exclusivamente o desempenho, mas criar o hábito e despertar o interesse pelo exercício. Nessa faixa etária, cobranças excessivas podem trazer aversão à prática. Então, o trabalho cooperativo em equipe – as aulas têm entre 5 e 8 alunos – e a prevalência do componente lúdico no Ballet Fly oferecem uma alternativa atraente. Os alunos praticam atividades individuais, em duplas, trios e grupos, podendo trocar informações, aprender com as dicas dos amigos, criar em conjunto e acima de tudo socializar. Dessa forma, o Ballet Fly oferece um espaço seguro para os adolescentes explorarem sua individualidade, desenvolverem habilidades sociais e estabelecerem relacionamentos significativos”, explica a educadora física Letícia Marchetto, que criou o método.
Ela diz ainda que a atividade pode funcionar como uma alternativa para os jovens encontrarem outro grupo social para se divertir e interagir, já que não são todos que possuem acessos a espaços que favoreçam a prática de atividades físicas, como clubes ou prédios. “As jovens têm a possibilidade de escolher se querem fazer as aulas com adultos ou com outras adolescentes. Nesse último caso, as alunas formam o próprio grupo e não ficam presas somente à turma do condomínio ou da escola que já formaram anteriormente. Isso é importante para a socialização e identidade”, comenta Letícia.
Segundo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças e adolescentes devem realizar, em média, 60 minutos de atividade física aeróbica moderada por dia, prática recomendada para evitar o sedentarismo, sendo que, em três dias da semana, elas devem estar focadas em fortalecer os músculos e ossos. De acordo com dados da cartilha “Num Piscar de Olhos – Diretrizes da OMS para Atividade Física e Comportamento Sedentário”, cerca de quatro a cinco milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população global fosse mais fisicamente ativa.
“O Ballet Fly é uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento da coordenação motora em adolescentes, pois oferece uma variedade de desafios que estimulam a consciência corporal e percepção espacial. A movimentação cruzada, homolateral e homóloga, por exemplo, desafia o jovem a coordenar braços e pernas de maneira harmônica. Além disso, a falta de visão direta do corpo durante os movimentos – especialmente quando invertido, ou seja, de cabeça para baixo – desenvolve a propriocepção, permitindo que o praticante sinta e ajuste a posição para alcançar figuras precisas”, comenta Letícia, complementando que a prática é indicada também para melhora do equilíbrio e estabilidade. A necessidade de foco pode, inclusive, refletir em outras atividades diárias e na concentração acadêmica.
A especialista explica que a prática de Ballet Fly no tecido acrobático também ajuda a aumentar a flexibilidade do corpo em adolescentes, melhorando a amplitude de movimento e reduzindo o risco de lesões. A atividade ainda auxilia os jovens a desenvolverem uma postura mais saudável, o que é essencial a longo prazo para uma vida ativa. “As figuras acrobáticas propostas no tecido solicitam constantemente amplitude de movimentos de pernas, como em espacates e extensões de coluna ou pontes. As flexões e rotações de coluna são fundamentais para a saúde dessa parte do corpo e trazem melhora na postura”.
Para ela, é essencial que os adolescentes tenham o apoio e incentivo genuíno dos pais para realizar atividades físicas, pois a prática deve ser percebida como algo necessário para a vitalidade e qualidade de vida. “É bem comum, na adolescência, abandonar a atividade física em prol dos estudos. Mas, quando praticamos atividade física, nossa janela cognitiva para o aprendizado aumenta. Então, os jovens podem ficar estressados se eles só estudarem, sem mesclar essa tarefa com outra atividade. A disciplina e a dedicação ao exercício vão moldar, no futuro, o comprometimento que o jovem vai ter quando ele tiver que fazer entregas no trabalho, quando tiver outras tarefas… E a hora que ele estiver dedicado ao estudo será mais produtiva do que muitas horas estudando com o corpo cansado, sem movimento, com os hormônios não devidamente regulados pela atividade física. Então, o incentivo dos pais é muito importante, porque a primeira atividade que as pessoas abandonam quando estão cansadas é o exercício físico. E essa deveria ser, talvez, uma das únicas práticas que não deveria ser abandonada”, alerta a especialista.