Para muito além de convenções ou regras chatas, a etiqueta se renova e se transforma cada vez mais em um meio de inclusão social. Afinal, quem sabe agir com todos facilita o próprio acesso às circunstâncias, oportunidades e realidades diferentes da original, para progredir, em todos os aspectos da vida. Com esta visão, três apaixonadas pelo desenvolvimento pessoal se uniram através da missão de promover a mobilidade social por meio da etiqueta.
Andreia Dias, Vivian Sarmento e Liliane Risaffi se conheceram em um dos muitos processos de capacitação que as três fizeram. Assim, a afinidade e amizade logo evoluíram para o trabalho. Juntas, somam a paixão pela etiqueta, traduzida no podcast “Será Q Pod?”. Por meio do programa semanal, o trio converge a aplicação de estudos e chancelas internacionais adquiridas em cerca de quatro décadas, somando o tempo que as três se dedicam ao assunto profissionalmente.
Tudo de forma leve e autêntica, através de exemplos práticos, para refinar o público e partilhar dicas sobre como receber, acolher, alimentar, entreter e se relacionar. “Atualmente, a etiqueta significa inclusão social. Entre duas candidatas com a mesma formação acadêmica, ao primeiro emprego, a que tem a melhor atitude, apresentação e repertório sai na frente. E, estas são vantagens que a etiqueta pode entregar até às pessoas mais humildes, moradoras de comunidades e periferias, que realmente queiram aprender, se desenvolver e se refinar”, pondera Andréia Dias.
Como o “Será Q Pod?” vai ao ar de forma aberta, através da internet a inclusão mencionada acima já é uma realidade. O maior desafio é vencer o preconceito que pesa quanto ao assunto. Afinal, muita gente ainda pensa que etiqueta é coisa “de gente afetada” ou “coisa desnecessária”. “Percepções combatidas facilmente através da lembrança de que precisaremos de suporte para lidar com pessoas de realidades e culturas diferentes. Fui premiada pela TAP, que me permitiu excursionar pela Europa por seis meses. No albergue no qual me hospedei e convivi com pessoas muito diversas, da Suíça e da África, por exemplo. A situação comprovou a pertinência da etiqueta, já que cada cultura prevê uma lógica própria”, exemplifica Dias.
A etiqueta está em tudo, desde a Diplomacia, Relações e Comércio Internacional até os detalhes do receber. “Muitas coisas são reproduzidas por hábito, sem qualquer sentido. Antigamente, talheres de ferro podiam contaminar a alface, que era enrolado em função disto. Esta regra caiu, pois há talheres de inox faz tempo. É até mais gentil servir as folhas já cortadas”, complementa Dias, que é Professora Universitária de Relações Públicas e Mestre em Hospitalidade e Master Etiqueta.
Bem enfática, Vivian Sarmento resume a etiqueta como “tirar a empatia do discurso e levá-la para a prática e dar o melhor de si para o outro”. Bibi, como é chamada no trio, comenta ainda que “é um grande prazer desenvolver as pessoas de modo que elas percebam e pratiquem isto”. A elegância tão buscada pelas pessoas está na atitude, no sentido mais puro de transbordar o interior para fora, que se fortalece em cada experiência, vivência e cultura. Cada uma delas permite ao indivíduo aprimorar o próprio repertório e “escolher a melhor ação ou reação” a cada estímulo. Este é o verdadeiro significado de elegância, empatia e consideração com o outro destaca Sarmento. Ela já escreveu sobre o tema em um dos seus livros em coautoria e é especialista no desenvolvimento de pessoas, por profissão há quase 30 anos.
Na esteira de ser o que prega, o trio que compõem o “Será que Pod” conta ainda com a personificação do acolhimento. Lili Risaffi surpreende as amigas com porta retrato da família, no criado mudo da cama na qual cada uma delas dormirá, guardanapos bordados com o nome de cada comensal, impressão do prato no cardápio, entre outras surpresas gentis. “Valorizo detalhes e sempre digo que quando a camareira percebe que o hóspede solta o lençol do colchão ela pode e deve manter assim, porque mais importante que a regra é a adaptação à preferência da pessoa recebida, por meio da antecipação e observação.
Outro ponto importante para a construção de uma sociedade com oportunidade igualitária é a promoção do ensinamento às crianças, desde pequenos, conhecer e aprender sobre regras, comportamentos e as atitudes necessárias para o respeito mútuo e a convivência social facilita o desenvolvimento e as relações futuras, diz Risaffi, que tem como sonho desenvolver um projeto social para ensinar boas maneiras para os pequenos.
Essas três mulheres acreditam em uma nova etiqueta descomplicada, que possa ser ferramenta importante para desenvolvimento de uma sociedade mais ética e melhor. Andréia lembra que a etiqueta pode ser considerada como uma espécie de “pequena ética”, já que se preocupa com o que é certo ou errado. A ética procura refletir sobre o melhor modo de agir, que não atrapalhe e nem desrespeite ninguém. Lili, cita que podemos notar isso quando um passageiro resolve reclinar sua poltrona durante um voo de avião, se ele se importa ou não, com o conforto da pessoa que está atrás do seu assento.
Interessante também analisar a etiqueta como um regulador moral, já que a moral é o conjunto de regras que norteia as ações sociais e, como Sarmento salienta, é importante saber que a moral deve ser interpretada conforme o contexto local e de cada época, pois sofre várias influências em cada sociedade em determinados momentos, como por exemplo no Brasil há menos de 50 anos uma mulher separada era considerada “imoral”, porque era considerada culpada pelo matrimônio desfeito e hoje essa mesma sociedade não mais tem esse padrão moral de julgamento, sendo uma pessoa divorciada algo moralmente aceitável e normal.
Outra virtude importante na prática da etiqueta é a gentileza, aquela legítima, que não visa nada em troca. Andréia refere-se à gentileza como um ato em si e não um meio para se conseguir algo, pois “gentileza realmente gera gentileza”. “Isto porque, quando é real ela é contagiante! Ser realmente gentil, completa Risaffi, é ajudar, cuidar e dar atenção, com ações como agradecer, ceder lugar para idosos, deficientes, cumprimentar todas as pessoas, pedir licença, elogiar com sinceridade, dar passagem no trânsito, por exemplo. Estas são atitudes que deveríamos aprender desde crianças, pois são elas que melhoram as relações por toda nossa vida!”, pondera.
Na etiqueta o equilíbrio é fundamental, os extremos são péssimos para as relações sociais. Se a etiqueta é equilibrada, os excessos são desequilíbrios, isso vale para qualquer comportamento desmedido ou exagerado, como por exemplo, uma pessoa ou um grupo de pessoas fanáticas e radicais, desrespeitam uma religião, uma cultura ou uma opção sexual diferente. Esse tipo de comportamento demonstra preconceito e intolerância, fatores repugnados pela Nova Etiqueta, pontua Sarmento.
A propósito da solução para este problema de discriminação, Dias defende a inclusão como uma das principais finalidades do trabalho que realiza. Isso é um dos pilares e está no propósito das três mulheres, que se dedicam e se dividem em suas regiões e com a sua rede de relacionamentos, para prestar serviços voluntários como workshops e palestras a comunidade. Como foi o caso do workshop prático que Sarmento ministrou para as candidatas, crianças, teens e plus size, ao concurso Miss Pantanal, que é realizado pelo projeto Casa de Débora na Vila Pantanal, periferia da cidade de Curitiba/PR e Dias como jurada para o concurso de Mulheres Maduras de um grupo da região norte de São Paulo/SP.
Impactos da tecnologia
A Nova Etiqueta também se preocupa com o desenvolvimento tecnológico e os seus impactos na forma como nos comunicamos e nos relacionamos. A interconectividade é uma realidade, desde reuniões de trabalho on-line como até na busca por encontros em sites de relacionamentos. Com esta facilidade tecnológica, não há mais fronteiras e nem distâncias, portanto, segundo as três mulheres, isso é um indicador de que o conhecimento de uma etiqueta na internet, assim como de diferentes culturas, será um fator importante nas relações de trabalho cada vez mais globalizadas, bem como no potencial de estabelecer relações pessoais para além dos limites geográficos.
Essas três mulheres, com perfis complementares, buscam “tratar a etiqueta como um caminho agregador, para transformá-la em uma ferramenta de desenvolvimento na construção de uma sociedade melhor, utilizando os pilares da hospitalidade e estabelecendo um estilo de vida gentil. Acompanhem o “@seraqpod”, toda quarta-feira, às 11h, no YouTube e Spotify.