Obrigado, vida, por me devolver o descontrole da situação.
Eu poderia fazer desse texto um exercício de futurologia. Escrever sobre minhas metas, planos e objetivos para o futuro. Seguir a lógica do “sempre em frente”, ignorando o que se passou na expectativa de que a vida, em sendo linear, sempre irá nos reservar dias melhores adiante.
Mas isso é, de antemão, equivocado.
A vida nos garante a mudança, somente. Essa não implica, em momento algum, a melhoria. Somos nós que estabelecemos essa marcha e que buscamos alcançá-la a todo custo.
Aliás, da forma como a vida se apresenta na realidade, que opção temos?
De todo modo, essa meta interminável, por vezes, nos faz acreditar que nosso tempo aqui é gerido pelo mesmo raciocínio: o do progresso. O do crescimento constante e ininterrupto. Mas, como já mencionei, a vida não está posta sobre trilhos que rumam adiante.
Ela é cíclica. Anda de lado. Dá voltas. Marcha ré. Regride. Progride. Caminha em solavancos. Quanto antes entendermos seu movimento incontrolável, melhor fica nossa saúde mental.
Eis aqui o primeiro fator que me faz agradecer os últimos tempos de minha existência.
Eles me devolveram a noção sobre a incapacidade de controlarmos 100% das nossas vidas. Do quanto influências externas e circunstâncias para além do nosso alcance são determinantes nos rumos que a vida toma.
Me mostraram que viver é estar a mercê e, ao mesmo tempo, me retirou das costas uma responsabilidade que a própria natureza das coisas e dos dias não me concedeu poderes para assumir.
É dizer: se eu não tenho capacidade de controlar tudo e todos, por quê buscar fazê-lo? E pior: por que me culpar quando não o faço com êxito?
Quando colocado dessa forma, parece loucura. Parece devaneio, mas eu insisto em dizer que são dinâmicas criadas para que nos esqueçamos de nossa humanidade.
Momentos em que nos fazemos parecer divindades ou super heróis. Situações em que nos esquecemos da nossa limitação e finitude.
Os últimos meses me devolveram a humanidade, por assim dizer. Me devolveram a imperfeição. A impossibilidade de sempre melhorar. A incapacidade de regir e gerenciar as regras do jogo, do mundo e da vida.
Encheram-me de consciência sobre a consciência que não possuo. Obrigado por isso.
Para além disso, me devolveu a importância da
revisita, do reencontro. Do recomeço. Me ensinou a olhar para o passado com o carinho e dedicação que ele merece para, daí, entender como ele se faz presente no agora.
Devolveram o meu olhar para a minha infância e para a infância de nossa espécie. Me trouxeram de volta para a realidade e para os processos de como entendê-la.
Se quero conhecer o fruto, devo olhar a raiz. Nesse sentido, radicalizei-me. Fiz-me ignorar aparências e superfícies para me concentrar no que está posto por detrás delas.
Fiz-me mergulhar em investigações curiosas e na importância de perseguí-las. Tirei-me das respostas prontas e me devolveu a importância de falar “não sei”, “veja bem”, “acho que não é bem assim” e “não sei se concordo.”
Mais uma vez, o descontrole.
O primeiro envolvendo a própria vida. Um descontrole que finca meus pés na materialidade, sopra para longe os ares de divindade e devolve à minha humanidade a tranquilidade de uma vida incerta e instável.
O segundo envolvendo os fenômenos. Individuais ou coletivos. Um descontrole que me bota a estudar, a me aprofundar nas questões, a tentar vê-las e analisá-las em sua totalidade para, daí, fazer meus julgamentos. Um descontrole que me premiou com responsabilidade.
Sabe que, quando me perguntam sobre o meu medo de voar de avião, eu sempre respondi que ele não guarda relação com a altura propriamente dita. Mas sim com a possibilidade de cair de lugares altos.
Após essa fase turbulenta, sei que os vôos incontroláveis de minha vida não terão a bordo o medo e a insegurança dos anos anteriores.
Que venham mais dias dela. Eu me sinto cada vez mais – ou menos – pronto para decolar.
Fotos: Cla Ribeiro
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