A coluna antecipou a edição da semana para munir o público de opção. Afinal, é muito melhor dispor de alternativa de entretenimento durante um feriado prologado que depois dele! Especialmente porque o tempo chuvoso mina a disposição de encarar estradas para viagens curtas. Assim, vale mais a pena aproveitar os três dias para descansar da cozinha e prestigiar a gastronomia local.
Para trazer uma opção pertinente para estes dias da Semana Santa fui conhecer o Olivença, que fica na Mercadoteca, um pool de restaurantes situado no bairro do Mossunguê. A casa tem menu marcado pelos sabores ibéricos, como sugere o nome. Então, há alternativas bastante apetitosas e diversas entre peixes, frutos do mar, com destaque para o Bacalhau. Minha escolha privilegiou um clássico, o Bacalhau às Natas.
Chegou à mesa bem servido, quente e condimentado pela páprica picante, peixe e molho branco fartos e amalgamados, em contraponto perfeito com o toque das azeitonas roxas e verdes, que constavam no prato na medida certa, sem excessos que poderiam roubar a cena. O prato também foi guarnecido por arroz branco bem solto, como convém.
A noite teve o reforço do Cabernet Sauvignon Casa Del Lago, um chileno coringa, de médio corpo, por isso mesmo, um dos poucos da carta que pode ser consumido por taça. A translucidez encantadora da bebida tem tom violáceo e reflexos ambarados, com aquele toque de pimentão bastante comum nesta casta. Mas, também encontrei a delicadeza da baunilha, o que indicou passagem por barril de carvalho francês.
Averiguei esta informação com o fabricante e confirmei o estágio de 10 meses em madeira francesa de segundo uso, o que confere alguma delicadeza e equilíbrio à bebida, marcada pela estrutura das uvas da Vinícola Labirinto. Assim, o Casa Del Lago é capaz de aquecer como entrada apropriada ao frio, acompanhar um prato com bom teor de gordura em harmonização por contraste, graças à adstringência desta bebida, sem fazer feio ou sabotar a sobremesa. A propósito dela, confiram o entretítulo abaixo.
Bem doce e delicado também
Ao olhar o cardápio o primeiro apelo entre as sobremesas me levou para Portugal, pois os doces conventuais me rendem um sabor de saudosismo como bônus, para além do sabor deles, em si. Isto porque sou natural do Rio de Janeiro, onde a influência lusitana é mais forte e prevalente em toda a cultura, o que inclui a mesa. Assim, meus olhos brilharam ao encontrar Toucinho do Céu, Ovos moles de Aveiro, entre outros do gênero. Cheguei a pedir pelo primeiro, sendo demovida da ideia com o avançar da refeição.
Os toques espanhóis no tempero do bacalhau me fizeram recalcular a rota, para rever a escolha da sobremesa. Então, refiz meu pedido e não me arrependi nem um pouco! Pois, os churros tinham massa delicadíssima e saborosa, chegaram sequinhos à mesa, foram servidos com o potinho de doce de leite, reproduzindo o costume espanhol de não rechear o doce, mas permitir que o comensal o adorne, para desfrutar de resultado muito mais saboroso, abundante e agradável.
Sem dúvida, uma ótima pedida para finalizar a refeição!
Nem tudo são flores
A experiência gastronômica no Olivença foi muito boa, como deixei claro ao decorrer desta matéria. Contudo, por respeito ao público, preciso sinalizar que o local está com espaço que julgo desleixado, extrapolando para além do tolerável a atmosfera despojada da Mercadoteca. Isto porque, o salão está mal iluminado, com mobiliário que não estabelece uma unidade, não traduz a identidade da marca, nem suscita acolhimento. Ao entrar, cheguei a pensar estar no local errado…Acredito que só mesmo pessoas muito íntimas podem manter a esportiva por ali, por isso considero o local contraindicado para encontros românticos, por exemplo. Aliás, ainda bem que eu fui com meu filho.