O grande problema do mundo: a agenda.
A grande questão do século: o conciliar de horários, a possibilidade dos encontros.
A princípio, diria que essa é uma dificuldade exclusiva de algumas classes sociais. Contudo,
por notar as diversas dinâmicas e engenharias que, perversamente, nos afastam e,
principalmente, nos mantém afastados, ouso afirmar que essas são matérias de ordem geral.
Certa feita, estava eu a conversar com uma pessoa no Direct do Instagram a respeito de um
evento presencial – um espaço de encontro – em que eu havia participado no dia anterior.
Expliquei que se tratava de um encontro com uma dúzia de mulheres e outros dois
comunicadores para falarmos sobre empreendedorismo, autoconhecimento, desenvolvimento
pessoal e relacionamento.
Ela me parabenizou pela iniciativa. Eu agradeci e lhe fiz um convite em seguida.
“Não sei com qual frequência vens de Porto Alegre à São Paulo, mas, se quiseres, serás muito
bem-vinda na próxima edição.” – eu disse.
Apesar da dificuldade em arrumar tempo e orçamento, ela manifestou a necessidade de voar
para terras paulistanas.
Uma grande amiga sua morava na capital paulista e, com ela, havia contraído uma dívida em
razão do débito que mencionei no começo desse texto: agenda.
“Preciso compensá-la. Ela veio para Porto Alegre e não conseguimos nos encontrar.” – ela
disse.
E eu questionei o motivo.
“As agendas não bateram.” – ela justificou.
Sinto, como disse a ela, que esse é o grande problema do mundo: driblar todos os obstáculos que fazem com que as agendas não batam.
Consequentemente, nos mantém em dívida com os demais e com nossa humanidade.
Afinal, por mais que haja manifestações dizendo o contrário, acredito não precisar investir no esclarecimento de que, essencialmente, somos seres coletivos, certo?!
De que dependemos uns dos outros para viver, certo?!
E se somos, por quê a vida nos faz cada vez mais individuais?
Por que, cada vez mais, somos os únicos e exclusivos responsáveis pelo nosso sucesso –
como se outras pessoas não tivessem papel fundamental em nossas conquistas – e, ao mesmo
tempo, somos os únicos e exclusivos condenados pelo nosso fracasso?!
(Como se não houvesse ingerências para além do nosso controle que determinam isso).
No dia, eu pedi uma pausa para, primeiro, explicar que a dívida que ela havia contraído com
sua amiga, por mais que não fosse sua culpa, era intencional.
Como também para explicar o porquê dessa lógica perversa que a “colocou no vermelho”.
O encontro, aquele encontro, qualquer encontro, permite com que conversemos sobre
questões que, em outros meios – virtuais, por exemplo -, não haveria possibilidade.
Permite que confrontemos duas visões de mundo e que provoquemos suas mudanças.
Permite que mudemos nossos olhares para a realidade do outro e do redor.
Permite um questionamento, uma indagação, um novo posicionamento e uma reflexão sobre
temas de fato sensíveis, caros e necessários para os nossos tempos e que vão além dos assuntos protocolares aos quais o Zoom, o Meeting e o FaceTime nos restringe.
Fotos por Cla Ribeiro
Trocando em miúdos:
Um encontro, um conciliar de horários, uma agenda alinhada não têm pauta.
E é essa falta que nos permite falar do que realmente importa.
Thomas Cerrini, 11/09/2022 – Belo Horizonte