Mas somente até os trinta e cinco anos?!
Não há dúvidas de que as mulheres, aos poucos e com muitas batalhas, tem tomado um lugar de maior protagonismo em todas as sociedades. Direitos e deveres de todas as gamas vêm sido exigidos e questionados conforme a necessidade de cada cultura. As mulheres vêm sim, a, duras penas, conquistando parcelas do tão falado e pouco explicado, empoderamento feminino.
Fato que pouco se discute ainda, é que existe um limite etário no inconsciente coletivo, para que uma mulher lute por seus sonhos, ideais e manifeste suas lutas. O etarismo ou ageismo , que significa o preconceito e discriminação contra pessoas mais velhas, começa a fazer vítimas do sexo feminino entre 35 e 37 anos, de acordo com o Escritório nacional de pesquisas econômicas dos Estados Unidos.
Não por coincidência, essa é a idade na qual as mulheres começam a ter uma queda na produção hormonal. A aparência bela, tão exigida das mulheres por causa da objetificação feminina, começa a dar lugar aos primeiros sinais de idade, a capacidade reprodutiva começa a diminuir, então devido a toda a lavagem cerebral pela qual a coletividade é bombardeada, as mulheres começam a “perder o seu valor”. Afinal, por conta do machismo institucionalizado, infelizmente esse “valor” muitas vezes se resume a beleza e capacidade reprodutiva feminina.
Prova de que esse preconceito atinge todas as mulheres, foi o discurso da cantora, Madonna, ao receber o prêmio de Mulher do Ano no Billboard Music Awards 2016, onde declarou que envelhecer era um pecado para mulheres, e que ela foi criticada, vilanizada e sua música não era mais tocada em rádios simplesmente por ela ter envelhecido.
Anos após esse marcante discurso, muitos continuam criticando a cantora usando o fator etário, tal qual o jornal New York Post na época do lançamento de seu ‘single’ “Medellín”, mídia essa que teceu duros comentários pelo mero fato de Madonna manter a postura desafiadora e satírica que teve toda sua vida, ou seja, criticada por ser ela mesma indiferente de sua idade.
Com o envelhecimento em massa da população global, começaram a surgir diversos movimentos questionando o ageismo. As pessoas começaram a discutir os limites impostos pela sociedade para se ter uma idade certa para ser, fazer ou agir de acordo com o esperado, e quais são as razões de tais limites.
No que tange as mulheres, existe um debate social em início sobre os conceitos e regras do que é ou não apropriado a uma mulher acima dos 35 anos fazer. As mulheres foram por muito tempo, manipuladas a sentir vergonha das características inerentes ao envelhecimento, desde pequenas condicionadas a perpetrar o ideal de juventude como algo absoluto.
Com relação ao comportamento, sempre se esperou que mulheres mais velhas realizem apenas atividades calmas e pacatas, sem mudanças drásticas na vida, sem curiosidade, sem aventuras, sem novos desafios, sem sensualidade e, porque não dizer, sem diversão.
E por fim a palavra velha sempre foi usada como ofensa (inclusive de mulheres mais novas para as com mais idade).
Pensamentos esses vem sendo questionados por parcela pequena, porém, ruidosa do gênero feminino. Surgem cada vez mais, mulheres acima dos trinta anos, como “influencers” levantando um ativismo contra o ageismo feminino, discutindo os valores sociais sobre beleza, carreira, estudo, sexualidade e liberdade das chamadas, nas redes sociais, “mulheres 30+”.
Expoentes dessa discussão no Brasil são as belíssimas, Cláudia Raia e Fátima Bernardes, ambas dispensando maiores apresentações, são mulheres que tem revisitado incisivamente, temas referentes aos dilemas e situações que enfrentam numa sociedade machista e ageísta. Usando suas carreiras e notoriedade como plataforma de reivindicação de liberdade e valorização das mulheres mais velhas.
A tendência, até pelo envelhecimento da população como um todo, é que essas questões se tornem cada vez mais visíveis e conhecidas da população, o que de fato levará a mudança dos paradigmas atuais sobre a liberdade das mulheres fazerem o que quiserem indiferentemente sua idade.
Porém, não existe nenhum dever das mulheres com mais de 35 anos se aterem aos padrões atuais para satisfazerem valores e modelos retrógrados. A melhor forma de se combater o ageismo é seguir fazendo o que deseja e como deseja, assumir seus desejos e gostos pessoais, se livrar de amarras sociais e principalmente ser livre independentemente da idade.
Mulheres não têm um prazo de validade para fazerem o que desejam e principalmente, não têm um prazo de validade para serem felizes! Portanto, sigam o exemplo da “jovem senhora” que encabeça o título desse artigo (a Barbie) que em seus 63 anos de existência sempre fez tudo o que quis de sua vida, de apicultora a presidente, e sejam tudo o que quiserem em qualquer idade.
Ageismo é um conceito que se refere a atitudes discriminatórias contra indivíduos ou grupos etários com base em estereótipos associados a pessoas mais velhas.
Fotos: Cla Ribeiro
Cris Angelis