Recentemente, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM-BC) estabeleceu claramente uma trajetória de diminuição da taxa básica de juros da economia (SELIC), permitindo um relativo afrouxamento monetário apesar da manutenção de uma perspectiva de política monetária contracionista, isto é, de uma política monetária voltada a restringir a oferta de dinheiro na economia com o intuito de reduzir pressões inflacionárias. Em linhas gerais, tal movimento é producente de expectativas relevantes para os agentes econômicos quanto às suas perspectivas de investimento.
Em linhas gerais, a taxa básica de juros constitui um relevante balizador das decisões de investir, determinando a trajetória e a orientação dos investimentos tanto na esfera produtiva quanto na esfera financeira. Se, por um lado, elevações na taxa de juros privilegiam a valorização financeira por meio da rentabilidade aumentada de títulos da dívida pública, por outro, diminuições na taxa de juros estimulam o investimento produtivo na economia real através do barateamento do crédito.
Contudo, costuma prevalecer uma importante relação de causalidade inversa entre taxa de juros e preço dos títulos públicos, na medida em que o preço tende a cair conforme aumenta a taxa, e a subir conforme diminui a taxa. Em termos práticos, a segunda situação, na qual nos encontramos, tende a ocorrer em função do fato de aumentar, no mercado secundário, a demanda por títulos públicos emitidos anteriormente à diminuição da SELIC, na medida em que estes proporcionam maior rentabilidade com relação aos emitidos subsequentemente à sua redução.
Tal mecanismo de oferta e demanda por títulos lança luz sobre a forma de comportamento dos agentes diante de suas expectativas quanto aos juros futuros. Diante da trajetória esperada de reduções contínuas da taxa SELIC, projetada em 11,75% para o final de 2023, e em 9% para o final de 2024, segundo Relatório Focus, espera-se valorização ulterior dos preços dos títulos remunerados em Renda Fixa. Entretanto, para que o título seja efetivamente reprecificado, faz-se necessária sua venda antes do prazo de vencimento, razão pela qual se impõe um manejo estratégico por parte dos detentores dos papéis de dívida pública.
Levando em consideração que o Brasil continua apresentando, apesar do relativo afrouxamento monetário, uma das maiores taxas de juros reais do mundo, continua e continuará sendo bastante atrativo o investimento em títulos públicos, seja pelo retorno em juros, seja pela possibilidade de venda a preços superiores na medida em que a SELIC cai.
E certa atenção também deve ser dada à possibilidade de valorização expressiva de determinadas ações em vista da diminuição da SELIC, na medida em que a diminuição do retorno em títulos em renda fixa tende a impulsionar a demanda por ações enquanto mecanismos alternativos de valorização financeira, tendo-se em vista, concomitantemente, relevantes mecanismos de transmissão na economia real mediante estímulos ao investimento produtivo. Neste bojo, também se impõe uma expectativa de apreciação de ações, porquanto geram-se estímulos ao investimento empresarial.
Entretanto, uma situação inversa se verifica em determinadas economias desenvolvidas, nas quais ocorrem aumentos em suas taxas básicas de juros em função dos temores quanto à possibilidade de elevação futura da inflação. Destacam-se, sobretudo, as decisões do FED (EUA) e do Banco Central Europeu (Zona do Euro). Neste caso, impõe-se uma perspectiva inversa, na medida em que a elevação dos juros, em que pese aumente a rentabilidade dos títulos públicos, reduz o preço dos papéis anteriormente emitidos.
Esta é uma das razões pelas quais, apesar da segurança quanto ao retorno dos títulos de dívida pública, se destaca a importância de diversificação de portfólios, na medida em que elevações das taxas de juros podem comprometer tanto mais o seu valor global quanto mais estes estiverem compostos por Renda Fixa.
Em linhas gerais, estratégias quanto aos investimentos, sejam eles produtivos ou financeiros, demandam conhecimento, ainda que breve, de importantes relações macroeconômicas, as quais permitem vislumbram com maior clareza as trajetórias e as perspectivas de rentabilidade diante das decisões de política fiscal ou monetária, bem como de suas expectativas frente aos acontecimentos concretos que permeiam o funcionamento da economia mundial.
É justamente este compartilhamento de conhecimento econômico contigo, meu caro leitor, o objetivo central de nossa coluna sobre a economia.