Quando uma troca de fralda se desdobra na descoberta de uma dermatite o volume do choro sobe, enquanto a certeza sobre o que fazer diminui. Embalada pelo pranto incontido do meu filho, quase chorei junto ao perceber que todas as pomadas faziam efeito nenhum…A pediatra constatou o problema e tentou me tranquilizar lembrando que “nem estava em carne viva”. Posso aplicar a pomada tal? Pode, autorizou ela. Saí do consultório esperançosa de que a farmácia me daria a solução para o problema, para só vê-lo crescer…
O que se mostrou efetivo trouxe uma atmosfera retrô para minha casa. Aquelas fraldinhas de pano quase me fizeram abrir uma lavanderia em um fim de semana. Reforços de roupas de cama e mantas banhadas pelo xixi de Benjamin se somavam às muitas roupas sujas…Isso é trabalhoso, mas nem de longe me afligiu tanto quanto lidar com as manifestações de dor do meu filho, porque tratar deste aspecto do episódio sozinha trouxe à tona a lembrança de todas as dores de solidão que experimentei na vida.
Fiquei pensando em todas as situações nas quais me doei sem recíprocidade e uma tristeza profunda me tomou de assalto, criando um enorme nó na garganta. Ele só foi desfeito quando enxerguei tudo isso e pude falar sobre…Dois dias depois, com a dermatite totalmente curada graças ao ar permitido pelas fraldas de pano e pelo efeito calmante do chá de camomila aplicado na pele do meu filho, tive de lidar com a suspensão da água em todo prédio, em decorrência do rompimento de um cano.
Por sorte, quando o problema começou eu já havia zerado a louça na pia, varrido minha casa, preparado comida para dias e limpado o essencial. Ocorre que o reparo alcançou dois dias, o que incomoda e restringe qualquer lar, ainda mais quando há um recém nascido nele. Louças um uso limitado e a água potável disponível para o imprescindível apenas.
Assim, lembrei de um restaurante térreo e com varanda, no qual eu poderia ir para almoçar, mantendo a integridade do meu pequeno, neste tempo cheio de vírus respiratórios. Além da falta d´água, estava exausta por ter passado a noite em claro administrando as cólicas dele. Mas, com o estômago forrado logo consegui me organizar para passar pelo único mercado próximo de casa que vive vazio. Ali, busquei itens essenciais agrupados em três sacolas. Percebi que o peso delas, somado ao canguru que uso para transportar Benjamin é tranquilo e comemorei. Afinal, a falta d´água me fez dispensar a faxineira a quem delego a tarefa.
A partir daí, me dei conta que não só sobrevivemos aos perrengues como podemos sair mais fortes e autônomos deles. Afinal, um problema ou contingenciamento temporário tem princípio, meio e fim, além de nos fazer criar soluções novas, como a que mencionei aqui. Com isso, nos libertamos de muitas “faxineiras”, porque entendemos que podemos dar conta destas e de muitas outras coisas sozinhos.Então, aplicamos uma peneira que começa nas questões simples e se estende às complexas, para promover mais significado e qualidade a todas as interações e relações que resolvemos estabelecer e manter em nossas vidas.
Como as suas relações se beneficiam desta visão? Quem se mostra agregador para a sua vida? Quem se exclui dela por subtrair afeto, atenção, respeito e outras coisas essenciais?
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