Eu tenho uma História que se parece com a minha é sobre caminhar juntas
“Sou Tetembua Dandara, e já começamos com bastante informação; meu nome é angolano, em Iorubá significa Estrela da liberdade” Assim começou a conversa com a performer e fotógrafa que concebeu “Eu tenho Uma História que se Parece com a Minha”, uma performance instalação em cartaz no 31 Festival de Curitiba.
Filha de pais militantes e fundadores do Movimento Negro Unificado, Tetembua conta que as questões da negritude sempre permearam sua formação artística e política, porém somente há 8 anos ela resolveu se debruçar nessas questões esteticamente trazendo esses materiais para a cena. A questão para ela é que ao falar sobre estes temas se chega a lugares em que a branquitude permite que a negritude ocupe. “E minha família não é do candomblé, nem do samba ou da capoeira. Eu sou uma performer que pensa teatro contemporâneo”, pontua ela que busca refletir sobre a questão de “onde está a diversidade negra nas artes? “A branquitude nos coloca dentro dessas caixinhas que lhes servem e quando saímos desse lugar não é “negro o suficiente”?”, diz, citando um parceiro de dança que questiona: “O que é ser preto suficiente pra vocês? Só vai ser preto se tocar o tambor e fizer dança afro? Não, digo eu. Nós somos diversos e é preciso deixar que essas vozes ecoem na sua diversidade”.
Começava ali o nascimento de um projeto que a família apresenta, partindo de conversas com a avó, Dirce Poli, de 95 anos, e que agora conta também com a presença em cena da mãe, Neuza Poli, e da irmã, Mafoane Odara. Nele, o público é convidado a adentrar um espaço que remete a um ambiente familiar acolhedor, que pode ser a casa de vó ou uma festa dos anos 90, com boa comida e muita música, em que as narrativas vão sendo reconstruídas pelas vozes, sabores e olhares presentes.
Quando Tetembua disse para a avó que queria filmá-lá, ouviu de bate pronto a pergunta: Pelada? “Esse humor me interessa. Pensar nos corpos negros envelhecidos que não sejam só corpos escravizados começa comigo olhando vinte anos de fotografia da minha vó, a quem fotografo a muito tempo e não tinha entendido que já tinha começado um projeto artístico com ela”. A partir daí, tudo caminhou rapidamente neste projeto que para ela é sobre “caminhar juntas”. O primeiro passo foi um livro de fotografia e com pequenos diálogos entre as duas, desenvolvido em uma pós-graduação e que teve a participação de d. Dirce na apresentação também. “Não precisa contar só histórias de sofrimento, porque não celebrar essas mulheres em vida?” pontua, lembrando que o livro será distribuído gratuitamente para o público presente.
E que ambiente melhor para celebrar que uma festa com boas histórias e comidas? É isso que o público curitibano pode esperar desta família, acolhimento e surpresas, porque tudo pode acontecer. “Minha avó pode não querer falar nada, e tudo bem”, adianta ela que também é a cozinheira nesta performance que é uma festa para todos e as crianças são muito bem-vindas.
“Parto de foro muito íntimo que é família, com uma proposta de compartilhar, dentro de uma estrutura cênica. É para assistir, sim, mas você não vai numa festa pra ficar olhando, você vai para compartilhar o tempo e histórias com as pessoas que você quer perto”. Esta performance, finaliza, é política, e vem da vontade de pensar e discutir a negritude para além dos estereótipos. “Somos muito maiores que os lugares que querem nos limitar.”
A Mostra Lucia Camargo é apresentada por Banco CNH Industrial e New Holland, Novozymes, Copel e Sanepar – Governo do Estado do Paraná, com patrocínio de EBANX, DaMagrinha 100% Integral, GRASP e ClearCorrect.
Ficha Técnica:
Concepção e Performance: Tetembua Dandara. Performance: Dirce Poli, Neuza Poli e Mafoane Odara. Pensamento Visual: Daniela Alves e Renan Marcondes. Fotos: Tetembua Dandara e Mariana Chama. Iluminação: Gabriele Souza. Cenotécnico e Técnico de Cena: Matias Arce. Técnico de Som: Cauê Gouveia. Produção e Técnica de Cena: Mariana Dias, Tati Mayumi e Claudia Simone dos Santos. Coordenação de Produção: Tetembua Dandara.
Serviço:
O que: Eu tenho Uma História que se parece com a minha, no 31.º Festival de Curitiba
Quando: 06 e 07/04 às 18h.
Onde: Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/n)
Valores: R$ 50 e R$25 (mais taxas administrativas)
Classificação: Livre
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva do Shopping Mueller (piso L3), de segunda-feira a sábado, das 10h às 22h; domingos e feriados, das 14h às 20h.