Intervenções apregoadas em redes sociais, feitas por pessoas não habilitadas, acendem o alerta sobre a importância de contar com um profissional experiente e adequado para realizá-las com critérios e segurança
A morte de uma influencer na semana passada, após complicações pela aplicação da substância PMMA para aumento dos glúteos, e também o caso de um empresário, que perdeu a vida após uma intervenção conhecida como peeling de fenol, reforçam os cuidados para a realização de procedimentos estéticos. “A primeira preocupação que todo paciente deve ter é a busca por profissionais capacitados e clínicas habilitadas para a realização de quaisquer intervenções”, afirma o cirurgião plástico Juliano Pereira.
“A segurança de quem se submete a um procedimento estético invasivo deve ser sempre nossa maior prioridade. É importante entendermos que o profissional deve estar preparado para todas as possíveis intercorrências e, quando graves, termos a convicção de que o profissional médico é o mais capacitado para intervir com a celeridade que tal situação necessita”, completa o membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e membro ativo da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS).
O PMMA, ou polimetilmetacrilato, é matéria-prima para lentes de contato, cimento ortopédico e implantes de esôfago. O componente plástico com uso restrito, como destaca o médico Juliano Pereira, não é absorvido pelo organismo. Por esta razão, a SBCP e a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) não recomendam a utilização do produto para fins estéticos.
A única situação descrita e aceitável é seu uso de forma reparadora, em casos de graves lipodistrofias faciais com perda de grande quantidade de gordura decorrente do uso de medicamentos antirretrovirais, como ocorre em pacientes com HIV, por exemplo. Porém, ressalta o médico, “são situações absolutamente raras, até pela evolução do tratamento desses pacientes, que dificilmente chegam a tais condições nos dias atuais”.
A utilização indiscriminada da substância para aumentar regiões do corpo, a exemplo da região glútea, de coxas ou mesmo braços é vista com grande preocupação pelo cirurgião Juliano Pereira. “As próteses usadas em cirurgias de aumento são envoltas em cápsulas. Se tivermos qualquer complicação na intervenção, podemos remover a prótese como um todo”, explica. “Isso não ocorre com o PMMA, pois ele fica diluído e divulsionado nas células gordurosas e musculares e, para retirá-lo, as cirurgias muitas vezes são catastróficas. Há ainda o risco de trombose e embolia pulmonar, que pode levar à morte”, alerta.
Para aumento de glúteo, Pereira elenca alguns produtos que podem ser reabsorvidos pelo organismo, como bioestimuladores e ácido hialurônico. “Há também a prótese glútea, que consegue aumentar a região com um resultado bastante satisfatório, porque atualmente é colocada dentro do músculo, trazendo um aspecto mais natural do que antigamente”, diz.
Outra boa opção é o enxerto de gordura na região glútea, seguida de uma lipoaspiração. “É mais segura e confiável, principalmente por utilizar um tecido do próprio paciente que foi removido e realocado.”
As redes sociais, na avaliação do cirurgião, representam um grande benefício quando alertam sobre os riscos de um procedimento estético realizado por pessoas não autorizadas e sem habilitação. “Por outro lado, também exercem uma forma perigosa de informação para a sociedade ao recomendar profissionais que não estão qualificados para aqueles procedimentos.” Pereira destaca o uso do fenol, que é aplicado há mais de 30 anos. “Com segurança, o peeling feito em centro cirúrgico, com acompanhamento de equipe médica, traz benefícios ao paciente. Do contrário, na realização sem a observância dos critérios necessários, há a probabilidade de sequelas, e mesmo a morte, como no caso recente, envolvendo o empresário.”
Os profissionais que seguem a linha da Anvisa, da Vigilância Sanitária e de entidades de classe, a exemplo do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, submetem-se a obrigações que precisam ser rigorosamente cumpridas nas clínicas e nos consultórios. “Nossa preocupação é sempre com a segurança do paciente”, afirma.
Na mídia e nas redes sociais, há nomes populares, como “bumbum brasileiro” e “bumbum de Hollywood”, que preveem o aumento de glúteo. “No entanto, na maioria das vezes, o paciente não sabe do que se trata aquele procedimento”, observa o médico.
Para o especialista, o paciente que deseja se submeter a um procedimento estético deve fazer um planejamento que começa pela checagem de informações a respeito do especialista que irá realizá-lo, do produto que será utilizado e do ambiente em que a intervenção será feita. “É fundamental verificar se o profissional integra a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Neste caso, o paciente terá a certeza de que o cirurgião cumpriu um rito acadêmico de formação e habilitação em residências médicas que lhe permite exercer o ofício com plenitude e responsabilidade”, diz.
Todos os procedimentos, sejam cirúrgicos ou não invasivos, levam em conta avaliações, critérios e cuidados. “É fundamental que se faça um pré-operatório minucioso com avaliações e exames”, diz. “Nunca é demais ressaltar que tão importante quanto uma cirurgia é a sua recuperação. Esta fase requer tempo e cuidados, e em hipótese alguma deve ser negligenciada. O acompanhamento médico, em todas as etapas, é fundamental para o sucesso do procedimento e a realização do nosso paciente”, conclui Juliano Pereira.