Monólogo que debate sobre os processos de aculturamento faz parte da Mostra Lucia Camargo do 32.ª Festival de Curitiba
“Azira’i” é, antes de tudo, um espetáculo sobre a relação entre uma filha e sua mãe. Com a dramaturgia construída a partir das memórias da atriz Zahy Tentehar, este solo autobiográfico resgata a sua vivência com a mãe, Azira’i, a primeira mulher pajé da reserva indígena de Cana Brava, no Maranhão, onde ambas nasceram.
Com direção de Denise Stutz e Duda Rios, o trabalho será apresentado no Teatro da Reitoria, nos dias 6 de abril às 20h30 e no dia 7, às 19 horas. Os ingressos estão disponíveis no site www.festivaldecuritiba.com.br, ou na bilheteria física oficial localizada no ParkShoppingBarigüi (piso térreo).
Azira’i foi uma mulher muito sábia e herdeira de saberes ancestrais, com vasto conhecimento sobre o mundo espiritual. Como pajé suprema, ela usava três ferramentas tecnológicas para curar: as plantas, a mão e o canto. Ao gerar e criar Zahy nesta mesma aldeia, deixou para ela seu legado espiritual. Ao longo da jornada como artista, Zahy fez do canto uma de suas expressões, o que poderá ser visto no espetáculo, já que ela cantará lamentos ensinados por sua mãe e canções originais compostas por ela com Duda Rios sob a direção musical de Elísio Freitas, produtor responsável pelo premiado álbum ‘Nordeste Ficção’, de Juliana Linhares, que também divide a autoria de algumas composições com a atriz e o diretor.
“Eu sou a filha caçula da minha mãe. A nossa relação, como muitas de nossos brasis, foi diversa: cheia de semelhanças e diferenças, com muitos afetos e composições importantes para nossa trajetória. A presença de minha mãe é tão viva, que a nossa relação se faz continuamente importante”, pontua Zahy. “Quando pensei em trazê-la ao teatro, não foi para falar apenas dos meus sentimentos, foi para dialogarmos com nossos reflexos enquanto sujeitos coletivos. Gosto de nos ver, humanos, como espelhos, pois nossas histórias se entrelaçam e se compõem”, analisa Zahy.
Azira’i faleceu em 2021, ao longo do processo de criação da montagem, que começou em 2019, quando Zahy e Duda Rios se conheceram no elenco da montagem de ‘Macunaíma’, dirigida por Bia Lessa e encenada pela companhia Barca dos Corações Partidos, também um projeto da Sarau. Duda formatou a dramaturgia junto com a atriz, em uma estrutura narrativa que percorre a história por diversos pontos de vista. No último ano, Denise Stutz se juntou à dupla e a encenação propriamente dita começou a ganhar uma forma.
“O nosso maior desafio foi selecionar quais histórias iriam compor a dramaturgia e ter um eixo narrativo claro aumenta a chance do público se envolver. A chegada de Denise foi fundamental, pois ela trouxe um olhar fresco que nos ajudou a identificar o que era essencial pra narrativa”, conta Duda Rios. Zahy, Denise e Duda conceberam então um espetáculo focado na performance, com apenas uma cadeira e uma cortina de corda crua como elementos de cena, além das projeções do multiartista Batman Zavareze, os figurinos de Carol Lobato e a iluminação de Ana Luzia de Simoni.
“Fui conhecendo as memórias de Zahy e me impressionando pela potência das histórias de vida e as narrativas sobre a mãe. A partir dessa escuta e dos textos que ela e Duda escreviam começamos a tecer esse musical de memórias”, reflete Denise Stutz.
“Azira’i” nasce ainda do desejo que Zahy tinha de contar as suas histórias reais, mas mostrando uma visão absolutamente não romantizada dos povos indígenas. ‘Uma história que é minha, mas também é a verdade de muitos brasis. É muito libertador poder falar do ser indígena de uma forma mais humanizada, sem estereótipos ou políticas. Quero poder contar a história de uma pessoa, como outras, que saiu de sua reserva, foi para a cidade, aprendeu uma outra língua e teve uma relação intensa com a mãe’, reflete a atriz, que alterna cenas em Português e também em Ze’eng eté, trazendo para o centro da cena o debate sobre os processos de aculturamento aos quais sua mãe foi submetida.
Fotos: Daniel Barboza
A Mostra Lucia Camargo é apresentada por Banco do Brasil, Sanepar e Tradener – Comercialização de Energia, com patrocínio de EBANX, Banco CNH Industrial e New Holland, ClearCorrect, Copel – Pura Energia, Brose, UNINTER e GRASP. Acompanhe todas as novidades e informações pelo site do Festival de Curitiba www.festivaldecuritiba.com.br, pelas redes sociais disponíveis no Facebook @fest.curitiba, pelo Instagram @festivaldecuritiba e pelo Twitter @Fest_curitiba.
Ficha técnica
Um solo de Zahy Tentehar. Dramaturgia: Zahy Tentehar e Duda Rios. Direção: Denise Stutz e Duda Rios. Direção de arte e design gráfico: Batman Zavareze. Trilha sonora original: Elísio Freitas. Iluminação: Ana Luzia Molinari de Simoni. Figurinos: Carol Lobato. Direção de produção e produção artística: Andréa Alves e Leila Maria Moreno.
Serviço:
AZIRA’I
Dias: 6/4 às 20h30 e 7/4 às 19h.
Teatro da Reitoria (Rua Xv de Novembro, 1299)
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva no ParkShoppingBarigüi – piso térreo – (Rua Pedro Viriato Parigot de Souza, 600 – Ecoville), de segunda a sábado, das 10h às 21h, e, domingos e feriados, das 12h às 20h.
Classificação: 12 anos
Duração: 90 minutos
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