Sua brânquia – órgão pertencente ao sistema respiratório – está posicionada sobre suas “costas”.
Caminhando pelo aquário de um laboratório, é submetida a teste.
O pesquisador, valendo-se de um bastonete de cristal, toca sua brânquia e aguarda sua reação. A lesma, diante daquele estímulo, fecha-a.
Para fins de proteção, imagino eu.
O pesquisador aguarda. Passados alguns instantes, a brânquia se abre novamente. Ele a toca mais uma vez com o cristal e, como esperado, ela se fecha.
Mais alguns segundos. Abertura. Toque. Fechamento.
Paciente e curioso, o pesquisador permanece fiel a esse padrão de comportamento. A lesma, ao reverso, passa a mudar o seu.
À medida que as repetições aumentam, a velocidade da resposta do animal decai. No trigésimo toque, a lesma deixa de reagir. No trigésimo primeiro, tanto quanto. No trigésimo segundo, novamente.
Por mais que o pesquisador agindo como inicialmente, a lesma muda sua atuação e passa a manter sua brânquia aberta.
Intrigado, o pesquisador troca o estímulo. Abre mão do bastonete e passa a se valer de um choque eletrostático de 0,000000001volts.
`[Vou te dar a chance de adivinhar o que nossa querida lesma faz diante disso]
Ele repete. Ela também. Ele segue. Ela se mantém. Até que, no trigésimo, trigésimo primeiro e trigésimo segundo choques, para nossa não surpresa, a brânquia para de se fechar novamente.
O pesquisador retorna ao bastonete e a lesma ao seu padrão inicial de comportamento.
Conforme a frieza do cristal tocava sua brânquia, voilá. A brânquia tornava a se fechar.
Esse estudo foi realizado há cerca de 60 anos para comprovar como os animais aprendem com base em um mecanismo que leva em consideração dois fatores:
Sensibilidade e habituação.
Analisando o comportamento da lesma do mar, entendeu-se que ela era sensível ao cristal e ao choque elétrico, a priori.
Contudo, conforme o estímulo foi se repetindo e se tornando “natural”, nossa protagonista parou de responder a ele.
Trocando em miúdos, ela se habituou.
Sua sensibilidade só poderia ser reivindicada caso um novo estímulo viesse à tona. E veio. E se fez presente. Até que, pasme, perdeu a potência de influenciar seu comportamento.
Sua manifestação.
A não ser que você tenha estudado etologia em algum momento da sua vida, esse e-mail pode ter feito contigo o que os estímulos fizeram com nosso animalzinho:
Te sensibilizado em virtude de seu caráter original e inédito.
Se o fez, ótimo.
Essa é parte – a de provocar – da missão que assumi enquanto professor e comunicador.
A outra parte é guiar a sua reação, o “movimento da sua brânquia”, por assim dizer.
E o faço questionando:
Será que você se habituou ao que te incomoda nos seus relacionamentos, nas suas amizades, no seu trabalho, na sua intimidade consigo mesma ao ponto de perder a capacidade de reagir?
Não espere, por favor, o trigésimo terceiro estímulo para responder.
Thomas Cerrini
@filtrodocafe